

'Como salvar a Amazônia', o livro de Dom Phillips que amigos concluíram três anos após seu assassinato
"Eu penso nele todos os dias". Alessandra Sampaio, viúva do jornalista britânico Dom Phillips, assassinado no Brasil há três anos, não conseguiu conter a emoção antes do lançamento do livro sobre a Amazônia que seu marido começou e vários amigos concluíram.
"How to save the Amazon" (Como salvar a Amazônia) era o título do projeto de livro que Phillips, jornalista independente que colaborava com o jornal The Guardian, tinha em mente quando foi assassinado durante a pesquisa para a obra no Vale do Javari, interior do estado do Amazonas, em junho de 2022.
O repórter inglês estava completando uma obra que pretendia representar um alerta sobre a situação ambiental da região, quando foi assassinado.
"Ele morreu tentando mostrar ao mundo a importância da Amazônia", afirmou à AFP sua viúva, brasileira, que compareceu na quinta-feira ao lançamento mundial do livro no centro de Londres.
No mesmo ataque, morreu o brasileiro Bruno Pereira, que trabalhava na defesa dos direitos dos indígenas e contra crimes ambientais na região.
O Ministério Público Federal (MPF) denunciou na quinta-feira o suposto mandante do assassinato de Phillips e de Pereira.
Embora o nome do suposto mandante não tenha sido revelado, autoridades já tinham como alvo Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como "Colômbia", que está preso desde dezembro de 2022 e é investigado por pesca ilegal e tráfico de drogas.
Até agora, oito suspeitos haviam sido denunciados por participação ativa no duplo homicídio e/ou na ocultação dos restos mortais.
- Conclusões policiais -
Os dois assassinatos teriam sido motivados pela atividade de fiscalização de Bruno Pereira contra ações ilegais na Amazônia, segundo as conclusões da polícia.
Phillips, 57 anos, e Pereira, 41, desapareceram em 5 de junho de 2022 no Vale do Javari, uma reserva indígena remota, próxima das fronteiras com a Colômbia e o Peru, onde atuam traficantes, pescadores e caçadores ilegais, além de garimpeiros.
"Era sua penúltima viagem. Restava outra e ele terminaria o livro", do qual já havia escrito quatro capítulos, explicou a esposa.
O livro, concebido com este título por Phillips, foi concluído três anos depois, com um capítulo cada, por um sexteto de jornalistas e escritores, integrado pelos britânicos Jonathan Watts e Tom Phillips, pelos americanos Andrew Fishman, Stuart Grudgings e Jon Lee Anderson e pela brasileira Eliane Brum.
Beto Marubo, líder indígena do Vale do Javari, escreveu o epílogo.
"É mais do que uma homenagem ao Dom. É o livro do Dom. Também é a nossa determinação compartilhada de concluir o trabalho dele, porque o amamos, porque os temas são realmente importantes para muitas pessoas", disse o coordenador da obra, Jonathan Watts, editor de meio ambiente do jornal The Guardian.
"E nesse processo, estou sempre imaginando o que o Dom pensaria, mas é a minha imaginação. Estou muito feliz com o livro. Estou triste que o Dom não esteja aqui para vê-lo, mas estou muito feliz que estejamos aqui", acrescentou.
Alessandra Sampaio e jornalistas amigos concordaram que era necessário terminar a obra.
"Após o funeral, pareceu muito claro a todos", disse a viúva.
- Amigos "leais" -
Alessandra Sampaio, modesta, expressa agradecimento aos amigos "leais" que completaram o livro.
"Me deixa feliz que tenha sido finalizado, mas o trabalho duro foi dos jornalistas", afirma.
A viúva, que ainda mora em Salvador, Bahia, reuniu todo o material do projeto de livro que seu marido havia deixado.
"Naquela última viagem, ele não levou o computador, que ficou em casa. Tinha dois ou três cadernos de cada viagem, com datas, lugares, explicando tudo", relata.
A esposa do jornalista assassinado explica que os autores "viajaram e entrevistaram novas pessoas para tentar seguir as ideias de Dom".
"No livro, reconheço coisas de conversas com ele. Demorei três meses para ler. Precisava parar porque me emocionava", explica.
Para ela, o livro também é um tributo a Bruno Pereira. "Não há como separar Dom e Bruno. Eles estão juntos. É uma mensagem para que todos entendam a importância da Amazônia e de seus povos", afirma.
A morte dos dois provocou mais críticas ao então presidente brasileiro Jair Bolsonaro, acusado de incentivar as invasões de terras indígenas com seu discurso favorável à exploração econômica da floresta.
O livro acaba de ser publicado no Reino Unido, Brasil e Estados Unidos e será apresentado em junho em diversas cidades dos últimos dois países.
V.Akram--CdE